Maricá/RJ,

POEMA DE NATAL


POEMA DE NATAL
                       Conceição Evaristo

O frio assola
os meninos no Natal
nas grutas, nas vielas,
nos condomínios...

O frio no Natal assola
a vida de muitos.
Na solidão do vazio prato,
o esbanjar da ceia
cerceia o paladar
de quem apenas em sonho,
molha a farinha seca,
no vinho tinto e extinto
pelo derramamento
do cálice do outro.

O frio no Natal
não tem nascedouro
em dezembro.
Há longas datas
o frio assola
a boca vazia
do ano inteiro.

Em dezembro porém
uma lembrança erupciona
a pele de todos.
O frio do outro Menino,
o frio do outro...

E então, no afã de exterminar
o nosso frio, fabricamos
o calor de um só dia, esquecidos
de que como deuses
também podemos milagrar a vida.

Basta tomar
o fogo-brilho da estrela
e com a chama do divino-humano
que em nós habita,
maravilhar o mundo com
a estrela-guia da justiça.

In Poemas da recordação e outros movimentos, Belo Horizonte, Nandyala, 2008, p.55-56

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